NOTÍCIA
07 de julho
As empresas e o voluntariado
Muito se ouve falar sobre as empresas e o voluntariado, contudo, muito se pergunta também se esta parceria tem exercido sua potencialidade em nosso contexto atual. Será que elas são efetivas? Ou duradouras?
O conceito de Responsabilidade Social Empresarial, sob a perspectiva ética, reconhece que as empresas são responsáveis por suas ações perante a sociedade e que, em algumas circunstâncias, deve considerar ainda os stakeholders. Reconhece-se assim a obrigação das empresas apoiarem as comunidades em que atuam, para dar melhor qualidade de vida às pessoas que ali vivem (PELOZA et al., 2012).
Já Voegtlin (2015) destaca a importância do papel da liderança exercida com ética e coragem moral, buscando soluções colegiadas que envolvam os interessados nas decisões e que, em longo prazo, provocam mudanças positivas na coletividade. Nos termos do autor, o líder responsável está conectado com a realidade e pensa criticamente as regras e normas vigentes, sem perder a perspectiva de longo prazo.
E o voluntariado nesse processo? Como essa atividade contribui no contexto corporativo fortalecendo, ou não, as ações e boas práticas de ESG das empresas? É o que vamos abordar neste blog.
O que é o voluntariado?
O voluntariado é uma manifestação importante de utilidade humana, por meio do qual os indivíduos oferecem seu tempo e conhecimento em ações voluntárias, de forma regular. É um elemento fundamental na construção da sociedade civil, humanizando a sociedade em busca de paz, liberdade, oportunidade, segurança e justiça para todas as pessoas, com objetivo final de transformar o mundo.
A dificuldade de se conceituar voluntariado está na multiplicidade de abordagens que refletem a definição de uma teoria única que engloba os diversos contextos em que a atividade pode ser exercida.
Considerando o aspecto multidimensional e a complexidade do tema, encontramos muitas definições do que é o voluntariado, assim como temos exemplos de sua importância para a sociedade através dos tempos, em momentos de calamidade ou mesmo no cotidiano, no intuito de resolver os problemas dos mais pobres e desamparados.
O voluntariado também pode estar fundamentado em motivação altruísta religiosa, quando da colonização do Brasil, ou em motivações de cidadania, como na década de noventa, pela participação da sociedade civil devido à abertura política.
Como surgiu o voluntariado empresarial
O voluntariado empresarial foi trazido para o Brasil pelas multinacionais americanas. Mas os primeiros movimentos de Responsabilidade Social Corporativa RSC, ou RSE, nasceram com o Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (IBASE), pioneiro na difusão das ações socioambientais das empresas, por meio da publicação do Balanço Social, em meados de 1980.
Com o surgimento dos Programas de Voluntariado Empresarial – PVE -, o voluntariado ganhou um novo sentido no contexto histórico e cultural, se institucionalizando por meio de programas adotados no âmbito privado. A criação desses PVEs nas empresas atenderia à crescente demanda da sociedade e de seus funcionários, por uma postura mais socialmente responsável.
Em substituição ao antigo conceito de voluntariado assistencialista, ligado a obras de caridade, as empresas passaram a criar políticas, definir práticas e disponibilizar recursos financeiros, fazendo uso de suas diversas formas de relacionamento para aumentar sua atuação social.
Segundo Studer e von Schnurbein (2013), o voluntariado empresarial pode ser definido como um conjunto de atitudes e políticas organizacionais empreendidas com o objetivo de motivar e apoiar a participação dos seus funcionários em trabalhos voluntários na comunidade.
Em função das transformações nas várias áreas do conhecimento e das novas necessidades dos indivíduos, somadas às crescentes preocupações com ações responsáveis e uma visão humanista da sociedade, é grande a atenção sobre como as mudanças no Voluntariado Empresarial operam na forma de gerir os negócios.
Leia também:
+ As OSCs e o voluntariado. Mitos e Verdades
+ Os benefícios do trabalho voluntário
Resultados entre empresas e o voluntariado. Uma relação em perspectiva
De acordo com o Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social – IDIS, o voluntariado empresarial contribui para que a empresa melhore as relações com os seus stakeholders, com destaque para seu público interno e externo.
Além disso, considerar a gestão socialmente responsável como estratégica pode ajudar a firmar os valores da empresa, um recurso válido para promover e sedimentar a cultura corporativa, fortalecendo vínculos entre funcionários, melhorando a imagem da empresa e o clima organizacional.
Ou seja, as práticas de voluntariado no âmbito corporativo são uma forma de as empresas demonstrarem para a comunidade seu engajamento social, por meio do incentivo e apoio a seus funcionários em projetos e trabalhos que beneficiem a comunidade do entorno.
Recentemente, o site “Voluntariado Empresarial”, referência no meio do voluntariado corporativo nas empresas, reuniu resultados de pesquisas sobre o voluntariado corporativo e cidadania corporativa e apontou que:
– 89% dos gestores de diferentes áreas consideram que o voluntariado corporativo faz a pessoa ser um profissional melhor;
– 92% dos gestores concordam que o voluntariado melhora habilidades de liderança;
– 70% dos gestores acreditam que ações voluntárias contribuem para os objetivos estratégicos da empresa;
– 82% dos gestores se sentem mais inclinados a escolher candidatos com experiência em voluntariado.
Já em relação aos colaboradores, o estudo apontou:
– 90% dos gestores acreditam que ações voluntárias contribuem para o desenvolvimento de habilidades e competências e fortalecem o espírito em equipe;
– 80% dos gestores acreditam que voluntários ativos se movem mais rapidamente para cargos de liderança;
– 88% dos colaboradores acreditam que seu trabalho é mais satisfatório quando são dadas oportunidades de causar impacto positivo em questões sociais e ambientais;
– 83% seriam mais leais a uma empresa que os ajudasse a contribuir com questões sociais e ambientais.
Outro ponto importante é que a existência de Programas de Voluntariado nas empresas tem sido fator decisório para a “geração Y” na hora de escolher a organização em que gostariam de trabalhar. Diante disso, o voluntariado deve ser visto como parte de uma agenda mais ampla, compondo a estratégia da empresa, em função da preocupação com sua reputação social.
Contudo, e os resultados dessa atuação conjunta entre empresas, sociedade e organizações do Terceiro Setor? Observa-se efetividade nas parcerias estabelecidas entre as partes? O potencial tem sido explorado em sua efetividade? Vamos entender mais sobre isso abaixo em nossa leitura.
Quais os benefícios do voluntariado para as empresas?
Entendemos que o voluntariado é um caminho para conscientizar e mobilizar pessoas e grupos sociais marginalizados para que defendam seus direitos, para modificar políticas públicas e criar ações no campo da cidadania, seja no âmbito público, no privado ou no do terceiro setor em que instituições sociais e fundações atuam fortemente.
É comum refletirmos sobre os benefícios para as ONGs que estão recebendo essa parceria e sobre os ganhos pessoais para o próprio voluntário, que exerce cidadania, pratica solidariedade e contribui com a sociedade. Nesta troca entre ONG e voluntários, as duas partes saem ganhando. As empresas que oferecem programas de voluntariado empresarial ou corporativo para seus colaboradores se somam a esta relação de benefícios mútuos e passam a ter em mãos uma ferramenta poderosa.
As empresas que promovem programas de voluntariado obtêm diversos benefícios com resultados positivos, como o fortalecimento da imagem junto aos formadores de opinião, construção de vínculos com as comunidades do entorno, ganho de credibilidade junto à mídia, mesmo que esse não seja seu objetivo.
Outros benefícios comumente observados por empresas que desenvolvem programas de voluntariado são a melhoria de clima organizacional, integração de funcionários, oportunidade de desenvolvimento pessoal e profissional, desenvolvendo a capacidade de trabalhar melhor em grupos e desempenhar melhor as tarefas em equipes multifuncionais.
Formatos de programas de voluntariado nas empresas
O voluntariado nas empresas pode ser apresentado de diferentes formas de atuação porque essas distinções ocorrem na forma e na prática, em função da diferença de contexto empresarial, e refletem na escolha das questões que envolvem competência, habilidades, estratégia da empresa; na definição de voluntariado corporativo, igualmente variada; e na composição do grupo de voluntários, que pode ser formado por funcionários efetivos, ex-funcionários, familiares, terceirizados, até mesmo em associação com seus parceiros sociais.
Embora haja muitas formas de práticas e uma variedade de atividades diferentes, o fator em comum entre o voluntariado nas empresas é o incentivo do empregador aos funcionários para que se tornem voluntários. Com a criação de políticas que beneficiam os empregados, como a flexibilização do horário, permitindo que o funcionário dedique horas à prática do voluntariado durante o horário normal de trabalho, ou incentivam a prática fora do horário de expediente, concedendo reembolso, prêmios e reconhecimento em dinheiro, ou permitem o uso das instalações da empresa e de outros bens tangíveis.
O empregador pode ainda buscar parcerias com instituições sem fins lucrativos, de maneira formal ou informal, para facilitar a prática do voluntariado, de modo que esses programas estejam mais alinhados com a missão e o negócio da empresa. Há também parcerias que se formam de acordo com o interesse dos empregados e da comunidade.
Segundo o CEO do Livres, Clever Murilo Pires, “hoje, vemos empresas bastante preocupadas em dar sentido e legitimidade ao que fazem nos programas de investimento social e voluntariado, não os descolando demasiado de sua atividade principal. Conectar colaboradores às oportunidades estratégicas e de impacto nas áreas de voluntariado, desenvolvimento de competências e doação comunitária para criar uma cultura que divulgue excelência e apoie a retenção de funcionários”, é um exemplo de missão que tem ressoado.
Como estratégia de negócios, implementar o Voluntariado Corporativo tem um impacto, e os principais benefícios são aqueles relacionados ao seu impacto social na ponta, devendo refletir a cultura da empresa.
A motivação nas empresas que levam ao voluntariado
Já esclarecemos sobre os benefícios para as empresas dos programas de voluntariado, mas o que as pessoas ganham com o voluntariado?
Como resultado das grandes transformações sociais, o voluntariado veio sofrendo mudanças, inclusive nas bases motivacionais e no padrão de realização. Enquanto o voluntariado tradicional envolvia um compromisso de vida, hoje, a vontade de participar em ações voluntárias parece estar mais diretamente relacionada a interesses e necessidades dos sujeitos envolvidos, do que ligada a um sentimento de obrigação para com a comunidade.
Motivados por uma busca de autorrealização, voluntários não abrem mão da liberdade de escolha e de atribuições claramente definidas com resultados tangíveis. Assim, para reter os voluntários e mantê-los envolvidos, a atividade precisa ser importante e divertida.
Para compreender melhor as motivações que levam milhões de pessoas ao redor do mundo a dedicar parte substancial de seu tempo para ajudar os outros em atividades voluntárias e quais os fatores envolvidos na decisão de se engajarem e se manterem em programas de voluntariado. Servimo-nos de estudos da psicologia que apontam seis fatores principais para a motivação dos voluntários:
- a) Valores, expressos pela oportunidade que o voluntariado proporcionará ao indivíduo de expressar seus valores humanitários e altruístas para com outros;
- b) Entendimento, possibilidade de novos aprendizados e de colocar em prática seu conhecimento, habilidades e capacidades;
- c) Social, a possibilidade de se relacionar com outros e se engajar em causas bem-vistas pela sociedade;
- d) Carreira, preocupação relacionada com os benefícios que podem ser obtidos a partir da participação em trabalho voluntário;
- e) Proteção, relacionada aos processos motivacionais envolvendo o ego, como se proteger de características negativas e, ainda, minimizar a culpa por ter mais sorte que os outros em resolver problemas pessoais;
- f) Melhoria relacionada com o aumento da autoestima, visando a contrabalançar o otimismo e pessimismo.
Estudos realizados para estabelecer o que motiva os funcionários a se engajar nos programas de voluntariado encontraram sensíveis diferenças para a sua motivação, de acordo com o tipo de programa de voluntariado que ingressam.
Identificaram, por exemplo, que a motivação dos voluntários em programas planejados e apoiados pelas corporações é muito diferente das motivações dos voluntários em programas, fora do contexto do trabalho e dos engajados em movimentos voluntários de caridade.
Desafios das empresas e o voluntariado
O Voluntariado Corporativo deve ser estruturado visando o incentivo ao engajamento, ao vínculo de confiança entre empresa e os voluntários, para aproximar as ações realizadas às atitudes pessoais tidas como importantes pela empresa. O voluntariado é um grande treinador e desenvolvedor de empatia e pode ajudar as pessoas a fazer mais, sentir-se melhor e viverem mais tempo.
Muitas instituições apontam que iniciam os programas, mas a participação dos colaboradores está muito aquém das expectativas. Esse é um desafio, sim: tornar o voluntariado corporativo uma ação da empresa, e não de pequenos grupos ou departamentos. Além disso, o programa precisa do envolvimento da alta direção, bem como a participação da mesma, precisa de publicização interna e divulgação clara de como as pessoas podem participar.
Outro desafio de muitas empresas é desenvolver um programa específico, o que se resolve trabalhando em parceria com organizações sociais locais que já tenham trabalhos consolidados. Uma das grandes vantagens da parceria para programas de voluntariado corporativo com as OSCs é que elas são grandes conhecedoras dos problemas enfrentados nas comunidades, do contexto, das oportunidades e possíveis soluções para o enfrentamento da situação e precisam de mais pessoas com conhecimentos multidisciplinares, força de vontade e recursos – o que as empresas têm em abundância.
“No Livres, por exemplo, não fazemos nada que não tenha nenhum propósito ou que seja sem sentido. O feedback constante de voluntários e instituições parceiras é incrível.”, afirma o CEO. Se a sua empresa deseja implementar um programa efetivo de voluntariado corporativo, fale conosco!
A potencialidade da parceria entre empresas e o voluntariado
Os desafios e os caminhos encontrados nas vivências diversificadas das empresas com os programas de voluntariado suscitam questões, como se a existência de programa de voluntariado traz modificação para o comportamento e o modo de proceder da organização e para o comportamento pessoal e profissional dos voluntários que se engajam nos programas.
No âmbito de negócios, podemos afirmar que o potencial das parcerias e do impacto a ser alcançado quando organizações sociais e empresas trabalham juntas é enorme. Também podemos afirmar que as empresas buscam ou desejam ter programas voltados ao voluntariado e às práticas de ESG. Porém, estão patinando em situações e contextos limitantes, buscando respostas dentro de suas equipes, sendo que poderiam atuar em conjunto com as entidades do Terceiro Setor, fortalecendo-se mutuamente naquilo que são boas.
Resultados detalhados da pesquisa sobre o voluntariado empresarial no Brasil estão no trabalho de Carmem Augusta Varela. Leia mais aqui.
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